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Foto do escritorRita Guimarães

Como as Fobias são Criadas? Minha História com a Ansiedade

Atualizado: 23 de jun. de 2022



Aos 17 anos, meu pai me levou a uma consulta com um neurologista. Isso porque desde os 9 anos, mais ou menos, eu já havia desmaiado diversas vezes. Desmaiei quando havia machucado meu dedo, tomado injeção, doado sangue, extraído um dente e até mesmo de ver meu irmão sangrando quando cortou sua mão. Como meu sonho sempre foi ser médica, e com a prova do vestibular se aproximando, achamos melhor fazer uma consulta para resolver esse meu problema de desmaiar toda vez que eu via sangue, injeção ou ferimentos. Impossível fazer a faculdade de medicina desmaiando em cada aula prática.

Infelizmente, para mim, meu neurologista me deu um diagnóstico difícil: “Você não tem nada físico, você só é covarde”. Com esse diagnóstico e não conhecendo nenhum remédio para covardice, tive que me resignar e desistir da carreira de médica. Enfim, mudei minha carreira para professora de inglês e a vida prosseguiu.


Anos mais tarde, resolvi retornar à área da saúde, que eu realmente amo, e me formei em saúde mental, me tornando psicóloga. Somente nessa época percebi o erro no diagnóstico dado pelo neurologista. Eu não sofria de “covardice”, como ele falou. Eu sofria de uma doença de ansiedade, chamada Fobia Específica, mais especificamente, Fobia de Sangue, Injeção e Ferimentos. A pessoa que sofre de Fobia sente um verdadeiro pavor ao ver ou até mesmo ao pensar sobre estímulos específicos (no meu caso, sangue, injeção e ferimentos, a única fobia que leva a pessoa a desmaiar). Covardice pode não ter remédio, mas fobia tem. Fobias podem ser facilmente tratadas por um psicólogo através de psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental.


Aquele diagnóstico errado me impediu de ser médica, mas hoje, como psicóloga, trato pacientes que têm fobia para que eles possam se desenvolver sem medos excessivos interferindo em suas vidas. Identificando minha fobia específica, comecei a me questionar sobre as causas dessa doença de ansiedade. Eu já havia notado minha tendência a ser ansiosa, mas como foi que desenvolvi esse medo de ver sangue? Quais foram os eventos relacionados a sangue e medo que originaram minha fobia?


Minha fobia: sangue, injeções e ferimentos



Pensei muito e consegui identificar a origem da fobia nas camadas mais profundas da minha consciência. Lembrei que por volta dos 8 anos, brincando com meu irmãozinho de 4 anos na época, tivemos um acidente e ele caiu da minha bicicleta, batendo a cabeça no piso de cerâmica e começando a sangrar bastante. Minha lembrança é do meu irmãozinho, de cabelos muito loiros ensopados de sangue, e minha mãe em pânico, correndo com ele para o hospital. Ele ficou bem, mas teve que levar alguns pontos para fechar o corte na nuca. Mas a lembrança que ficou fortemente marcada em mim foi da cena onde eu o vi indo embora, ensanguentado, sem saber o que aconteceria com ele. Isso foi um trauma para mim, mesclando poderosas emoções de medo, culpa, remorso, tristeza, incerteza, insegurança e falta de controle sobre a situação.


Pronto, estava formada a situação que propiciou o início da minha fobia. Fobias são criadas assim, juntando as tendências biológicas e psicológicas da pessoa para ansiedade, observação de outras pessoas com medo ou pânico, e uma situação traumática com muitas emoções poderosas relacionadas a um estímulo. Esses estímulos podem ser perigosos de verdade (como cobras ou lugares altos), raramente perigosos (como elevadores ou aviões), ou totalmente inofensivos (como borboletas ou pontes). Para tratar uma fobia não é necessário descobrir a sua origem, mas esse autoconhecimento é útil para conhecermos nossas tendências, situações e estímulos que nos incomodam, ou identificar situações traumáticas para que sejam elaboradas, aliviando o sofrimento relativo a elas.


No meu caso, minha fobia foi diminuindo de intensidade com o tempo, graças à minha coragem (viu, Dr. Neurologista!) de enfrentar as situações temidas sem fugir e outros métodos naturais que utilizei para aliviar minha ansiedade em geral (leia: Dicas para Diminuir a Ansiedade Hoje). Divido minha experiência para que outras pessoas conheçam um pouco mais sobre essa doença de ansiedade e possam por sua vez buscar tratamento adequado quando assim o desejarem, seja com um psicólogo ou até mesmo por conta própria.


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